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quarta-feira, 9 de julho de 2008

O inferno são os outros

Algo que me perturba nesse cotidiano contemporâneo é a facilidade e naturalidade com que isso ocorre:
__ Olá, como vai?
__ Bem. E você? E a família?
__ Tudo bem.
O que até seria normal se, é claro, eu realmente me importasse com vida alheia. É tudo educação moderna, uma resposta seca para uma pergunta sem objetivo. A arte de morrer negando, exalando contentamento publico.
Acha que eu to exagerando?
Hoje eu conversei por uma hora com um parente distante que eu nem sabia que existia. Pior, o cara parecia me conhecer melhor que eu mesmo. Quem era? Sei lá.
Vai dizer que essas coisas esquisitas só acontecem comigo. Não, melhor não dizer nada, prefiro a incerteza da duvida à certeza dos fatos.
Mas como tudo poderia ser pior (se já não é?), imagine encontrar um velho amigo:
__ Ei, há quanto tempo, como vai?
__ (...) Na merda! Estou desempregado, não como nada há dois dias... minha mulher e filhos me abandonaram... peguei AIDS e ainda to devendo 2 mil prá um traficante dá cidade. Eu tava indo me atirar dá ponte. Pode me dar uma carona? Ou vai tentar me convencer a viver e encarar os problemas de frente?
__ Não! É, ah... Claro. Tudo bem, qual é a ponte?
Entre a triste mentira e a felicidade de revelar a tristeza eu prefiro a primeira opção. A ignorância, principalmente quanto a os problemas alheios, é uma dádiva.
“Eu sou egoísta, sim eu sou. Porque não? Porque não?”
Nada muito ortodoxo, eu sei, mas o que fazer senão se acostumar ao andar dá carruagem. Deixo aos mais jovens a vontade de mudar o mundo. Sempre foi assim, e eu nunca soube de ninguém que morreu tentando (ta, eu sei em quem você está pensando!).

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