O estranho no espelho

Ele acordou suado com o soar das quatro horas. Ao vento frio do ventilador ligado sentiu um arrepio na espinha. Tocou os pés descalços no assoalho úmido e andou cambaleante na escuridão do quarto. Tentou abrir a janela sem notar que um cadeado a fechava e se agitou ao entender que o pulso ainda pulsava. Correu a sala, resvalou no tapete e caiu rolando as escadas. Levantou-se e lançou-se ferozmente nas portas, nas janelas e venezianas fechadas. Enfim, tombou ao chão e admirou as trancas de ferro e os vidros à prova de bala.
Nos cantos das paredes piscavam câmeras de vigilância. Munido de uma vassoura ele destruiu todas elas e mais um vaso de porcelana herdado de sua bisavó. Cansado desistiu e sentou no sofá. Mas algo o incomodava embaixo das almofadas. Sem querer procurar encontrou as chaves do banheiro e um bilhete para o paraíso. Jogou o bilhete fora e correu até o banheiro. Finalmente podia urinar e voltar a dormir.