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sábado, 15 de março de 2008

Estória

Eu sempre fui um mau aluno, não que eu seja uma má pessoa, aliais, eu nem acredito nesse negócio de “má pessoa”, pra mim isso é fruto do reducionismo barato das novelas da globo, mas, fato é que eu nunca fui lá muito bom exemplo e quem acreditou que eu poderia ser, hoje já se arrependeu e não está muito melhor do que eu. Porém, eu não me arrependo, ao menos tenho boas histórias para contar quando ficar velho e não lembrar mais como as coisas realmente aconteceram, o que tornará a história muito mais divertida do que a verdade.
Professores talvez sejam as únicas pessoas que vão pro céu, afinal, além de ganhar mal e trabalhar muito eles aturam com paciência – em menor ou maior escala – pequenos ditadores, rebeldes sem causa e anarquistas em geral. Mas apesar do que se pensa e algumas pessoas até juram que é mentira, eu sempre estudei, não em excesso, porque todo mundo sabe que estudo em excesso faz mal, mas o suficiente para ser aprovado, muitas vezes aos trancos e barrancos, mas... aprovado. Algo que sempre me divertiu, prova da pretensão humana e da minha falta de caráter, era pensar em como aqueles professores que me odiavam reagiam a minha aprovação:
__ Como ele conseguiu? Alguém aqui não está cumprindo a sua parte no acordo.
__ O que você queria que eu fizesse? Ninguém reprova em religião!
__ Conversa! Aplique uma prova surpresa, pergunte a ele se deus realmente existe, e quais são as provas disso.
__ Mas... isso nem eu sei.
__ Tá vendo! Você não está se esforçando.
Mas a fase de estudante já passou e feito um balanço dessa época fica claro que existem mais pontos positivos do que negativos, mas eu ainda guardo mágoas e remorsos, certo é que ninguém perdoa por completo.
Certo dia estava eu meio easy rider sentado no banco da praça observando o cotidiano, quando de repente eis que surge em passos curtos e pesados uma velha professora que me assombrava constantemente em pesadelos torrenciais, então o chão rachou e um corvo pousou na janela e disse nevermore, eu pensei horrorshow. Dei um assobio bonito daqueles que você só usa com as gostosas do calçadão, ela parou e olhou, eu sorri, tranqüilo ela vai continuar andando, ela caminhou em minha direção, “merda, ela me reconheceu!”, a expressão da mulher era uma espécie de Carlota Joaquina com caganeira:
__ Quando é que tu vai crescer hein?
__ A verdade é que eu só fiz isso por causa de uma reportagem que eu vi na tv. Parece que as mulheres que passam dos 60 anos necessitam de um assobio para manter a alto-estima e não cair em depressão.
__ ...
Ela engasgou e eu pensei: “Bom sinal. Opa, talvez não e se ela tá passando mal?”. Cogitei ajuda-la, mas não dava pra arriscar, podia ser uma armadilha. Então ela se recuperou, desviou o olhar e disse:
__ Obrigado. __ e continuou a caminhar em passos curtos e pesados.
__ Ufa...
Eu nunca mais vi a tal professora. Hoje vivo com identidade falsa sob a proteção do governo, por que nunca se sabe, certo? Acho que nunca mais a verei, todavia dedico este textículo a ela.

Obs.: Há raros dias em que eu acordo meio criativo, como eu não sei pintar eu conto uma estória.

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