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sexta-feira, 1 de julho de 2011

Conto

Uma mosca pousava pontualmente na tela da televisão de Haroldo. Bastava ele ligar a velha toshiba que a tal mosca aparecia, primeiro em rasantes baixos, estudando o território, depois, como se fizesse um alvo, pousava certinho no meio da tela.
Haroldo, xingava irritado, sinceramente esperava que a mosca se intimidasse com seu oponente e fugisse. Mas a cretina parecia ignorar o seu apelo e vidrava doida a televisão. Não foram poucas as vezes em que, num ato decisivo, de flácida demonstração bélica, jogara toda sorte de objetos na mosca maníaca, que se esgueirava leve, e retornava pro mesmo lugar, e ali ficava até que desligassem a tv.
A longo prazo, a mosca vencera. Haroldo nunca chegará a combate-lá satisfatoriamente e agora parecia ter perdido completamente o interesse pelo conflito, parecia, pelo contrário, se entreter com sua presença.
Às vezes, quando chegavam as visitas, Haroldo corria atencioso para explicar aquela presença incomum, antes que alguém, por ignorância, lhe desse cabo. E ele explicava sempre, de forma divertida e corriqueira, como se falasse de um animal de estimação. As pessoas sorriam achando graça. Era a pior das esquisitices, coisa comum em gente velha, a solidão.

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