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sábado, 4 de julho de 2009

Colhões - Parte IV


Criacionismo

Na sétima série eu conheci Baby Lu, o coroinha, era a inocência em pessoa. A mãe dele era uma vadia abandonada que educou o garoto pessoalmente, ano após ano, até a sexta série, sempre dando ênfase ao estudo da bíblia, a ferro e fogo. Era ensino desumano e super avançado, ele estava anos-luz a frente do meu ensino público. Então era de se esperar que o novato quebrasse o galho da turma com o dever de casa. Um ato heróico.
Mas o cara era esquisito, não falava com ninguém, nem sequer olhava. Vivia no seu próprio mundo, o das palavras não ditas, onde ele era o cristo ressuscitado gerado miraculosamente no ventre da virgem, o único mocinho na terra dos homens sem lei.
Quando ele parou de ir as aulas ninguém sentiu muita falta, as pessoas ficavam incomodadas com sua presença, ele era o dedo de Deus apontado na direção de Gomorra, ninguém gostava disso. Mas como meu pescoço estava em jogo, eu fui atrás do safado que tinha sumido sem resolver meu dever de casa.
Encontrei-o no cinema velho, onde reprisava todos os dias – desde que a igreja o comprou no intuito de censurar os filmes que lhe conviesse – das 14 às 16 horas, Jesus de Nazaré, sessão livre, ele e o faxineiro eram o chamado público alvo. Perguntei por que ele não ia a aula, “não preciso!” ele respondeu, era a primeira vez que dizia algo, antes ele simplesmente pegava os deveres e os devolvia no dia seguinte, bom, já é um começo. “Mas eu preciso!” retruquei, ele não disse mais nada. Neste instante o faxineiro entediado com o calvário de Jesus sentou ao nosso lado e disse:
__ Vocês sabiam que antes do pastor comprar essa espelunca pra escravizar a mente de vocês crianças com esses filmes de merda sobre o super de Jerusalém, aqui era um cinema descente. Provavelmente os pais de vocês se masturbaram incontáveis vezes aqui, nas sessões da meia noite. Eu mesmo ainda guardo o original de Garganta Profunda, um clássico pornô sabe? Ah vocês crianças não sabem é de nada mesmo.

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