Tópico

sábado, 30 de maio de 2009

Filmes de guerra, canções de amor

Não faz muito que foi divulgada uma lista com as 10 melhores musicas de protesto já feitas, encabeçada logicamente por Bob Dylan. Interessante observar o conteúdo de tais musicas, em geral letras sobre a irracionalidade das guerras. Guerras com muitas vitimas e nenhum herói são guerras de vilões derrotados. O interessante no caso é que, embora conflitos bélicos sejam problemas globais, esse sentimento de amor e ódio é uma coisa muito americana, até na hora de fazer uma simples lista isso aflora. Além do mais eu achei essa lista limitada e superficial no que idealizava.
Toda via, no Brasil pior seria. Uma dezena de canções, subliminares ou não, sobre a ditadura e sambas no escuro. Como se fardas, generais e canhões fossem a única preocupação humana. Como se já não houvesse sangue, suor e lama o suficiente em qualquer cotidiano. Doenças e acidentes ligados, direta ou indiretamente, a atividades profissionais matam por ano três vezes mais trabalhadores do que qualquer guerra. Portanto, existe alguma explicação convincente, que não seja nem uma nem outra, para que quase todo protesto listado seja mal direcionado ou direcionado ao óbvio?
Há um subversivo diálogo no livro Clube da Luta sobre a triste condição da nossa geração, vulgo “os filhos do meio”, aqueles que não viram o começo e nem verão o fim, que preferiram assistir tevê. Aqueles que disputaram espaço em futuros livros de história, no capitulo sobre conquistas tecnológicas não há lugar para idiossincrasias humanas. Estamos meu bem por um triz.
Toda essa situação psicossociológica meio que explica a ausência cultural das musicas atuais e dá razão a velhas nostalgias. Ninguém cria cultura para si mesmo – exceto talvez eu. O nível artístico do século XXI reflete o nível intelectual da sociedade como um espelho mágico. Ainda não sei mesmo quais foram as promessas que a modernidade cumpriu.
Quase todo jovem brasileiro (dados globais demandariam buscas além do Orkut) se diz apolítico, como se mesmo esta já não fosse uma decisão política. Ora, mas justo a geração constitucionalizada? Não os culpo. No Brasil as crianças aprendem muito cedo a desvirtuada visão adulta de que política é apenas uma forma burocrática de foder com o povo. A distanciação dos fatos é que gera o comodismo.

4 Comentários:

Leandro Correia disse...

Gostei do texto, realmente o comodismo em relação à política esta em alta, só mesmo colocando os jovens mais próximos deste mundo (ensinando mais sobre, ou mostarndo o que é decidido através de políticas), para que este quadro seja revertido.

Luana C. disse...

O nível cultural reflete o nível intectual? Se for o caso, a humanidade está indo bem... O caso é que, infelizmente, em nosso país, não possuíamos uma arte nacional. Teria sido melhor se a cultura se vangloriasse mais das idéias do que do corpo... Anos e anos no período colonial, trazendo uma cultura européia no Brasil, esquecendo-se da cultura ameríndia que temos. (Ainda).
Produções são rapidamente sugadas pela mídia, muitas como "moda". (Será que a maioria delas?)
O comodismo está presente em mim. Sei disso. Como posso lutar contra isso? Organizando uma passeata? Quem irá se importar com isso? O simples fato de não se obter resposta nos faz desistir. Não é o comodismo a doença de nossa sociedade, é o não fazer. A desistência. A falta de vontade.
Gostei de seu site. Gostaria mais se pudéssemos conversar mais.
Cuide-se.

Rogério disse...

Obrigado Luana,
você traz uma idéia interessante: O não fazer.

Acredito que nos abandonomos ao pensar que as coisas são assim mesmo, que nada vai mudar, desista agora.
É preciso lembrar que a vida não é um avião caindo.
Pense: o que seria da sociedade sem as pessoas?

Eu não posso ser obrigado a aceitar o que eu não quero, caso contrário eu nunca serei um homem livre.
Mas não falemos de liberdade, útopias. Falemos de arte.

Sim, penso que o nível cultural reflita o intectual e vice-versa (observe que falo de sociedade). Ou seja, os tais artistas do aqui e agora fazem músicas pra agradar seu público, quando deveriam falar justamente daquilo que não queremos ouvir e se essa mensagem nos lembrar do que esquecemos ai sim serão verdadeiros artistas.
(Só não entendi o que você quis dizer com "estamos indo bem" - pra onde?)

Resumindo, O que eu realmente indago neste texto é:
Onde estão nossos profetas? Caras como Lennon e Dylon? Mas eles são heróis de uma geração que não é a minha. Eu quero meus próprios heróis.


Ah, que discussão esplêndida, gostaria que fosse sempre assim.

Luana C. disse...

Rogério,
Respeito seu ponto de vista, mas como ser verdadeiramente você? Sei que a sociedade não seria nada sem as pessoas, elas a fizeram. Com base em normas e instituições.

Além do mais, sua compreensão foi falha ou foi a minha forma de escrever que tornou ambígua minha idéia. O que não falta é cultura. No entanto, você disse que não há artistas ou não sabe onde estão. Concordo em não saber onde estão, mas não significa dizer que não existem.

Agora, pergunto: Como ser visto por um sistema que tem como base uma monetarização tão forte? Esses profetas precisam ser muito persistentes. Por isso disse o não fazer. O não tentar. A desistência.

É raro mesmo uma discussão pela net, imagine "in real"... Estamos ficando robotizados?

Cuide-se!