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domingo, 6 de abril de 2008

Kriptonita

Eu sou do tempo da ditadura colorida
da liberdade em preto/branco
o ensurdecedor cinema mudo
Deus cego e surdo
e todo mundo, o fim de tudo.

Eu sou do tempo do céu em chamas
dos corpos caindo... da cama... na lama
será que você me ama?
e a vida branda dos domingos e feriados
os pés-descalços
à romaria dos mutilados Jesus agradece
vicio burguês se chama poder
um lindo dia para morrer diz a tv
e o mês está longe de terminar.

Eu sou do tempo da Alegria do circo
e da tristeza do palhaço
de um continente inteiro aos pedaços
o santo barroco desfigurado
da primavera das flores mortas
as crianças tortas, triste herança da radiação
asceção sem queda, a exceção da regra
dos jogos de carta
uma carta fora do baralho.

Eu sou do tempo dos caras pintadas
nossas mãos dadas
dos meninos fuzilados que brincam na escada
o grande recuo
da pornô-chanchada
a jangada de medusa
literatura luso-brasileira
do muro que separa nossas casas, nossas raças
a ganância que destrói nossas matas
verde colônia, El Rey Coronel, por favor...

Eu sou do tempo
em que se diz ser do tempo
mesmo sabendo
que o tempo não é de você.

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